O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou nesta quarta-feira (9) uma carta pública ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. A nova medida entrará em vigor no dia 1º de agosto de 2025.
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Segundo Trump, a tarifa será aplicada “sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os EUA, separada de todas as tarifas setoriais existentes”. Isso inclui itens já taxados, como o aço e o alumínio, impactando diretamente a indústria siderúrgica nacional.
Na carta, o republicano afirmou, sem apresentar provas, que a decisão se baseia “nos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”.
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Críticas ao STF e apoio a Bolsonaro
Trump usou o documento para criticar diretamente o Supremo Tribunal Federal (STF) e demonstrar apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “É uma vergonha internacional o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal”, escreveu.
O tom político da carta chamou a atenção de analistas. Para muitos especialistas, o anúncio tem forte conotação geopolítica e visa ampliar a capacidade de barganha de Trump em seu possível retorno à presidência.
A medida surpreendeu o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que afirmou não esperar a aplicação de uma tarifa tão elevada. Segundo o MDIC, as negociações com os EUA tratavam de uma tarifa de 10% sobre países do Brics, sem qualquer menção específica ao Brasil.
Relação comercial com os EUA e impacto da tarifa
Trump afirmou que o relacionamento comercial entre os EUA e o Brasil é “injusto” e “longe de ser recíproco”. No entanto, os dados do próprio Ministério do Desenvolvimento desmentem essa alegação: o Brasil acumula déficits comerciais com os EUA desde 2009.
De acordo com os dados oficiais, as importações brasileiras de produtos norte-americanos superaram as exportações em mais de US$ 88,6 bilhões (cerca de R$ 484 bilhões), o que mostra uma vantagem para os EUA nesse período.
Ainda na carta, Trump sugeriu que empresas brasileiras podem evitar a nova tarifa se “construírem ou fabricarem produtos dentro dos EUA”. Além disso, alertou que qualquer retaliação por parte do Brasil resultará em contramedidas equivalentes.
Tarifa sobre Brasil integra ofensiva global
A decisão de Trump faz parte de uma nova ofensiva tarifária global. Nesta semana, o republicano enviou notificações a diversos países, impondo tarifas que variam entre 25% e 50%. Somente na segunda-feira, 14 nações receberam comunicados. Outros oito países, incluindo o Brasil, foram notificados nesta quarta-feira.
Entre os alvos da nova política comercial estão Argélia, Brunei, Filipinas, Iraque, Líbia, Moldávia e Sri Lanka, com taxas variando de 20% a 40%. A tarifa sobre o Brasil foi a mais alta entre os países anunciados até agora.
A medida também se soma à recente ameaça de Trump de aplicar uma tarifa adicional de 10% a qualquer país que se alinhe com as “políticas antiamericanas” do Brics. “Esses países estão tentando substituir o dólar como moeda global”, declarou o ex-presidente na rede Truth Social.
Reação do governo brasileiro
Após o anúncio, o presidente Lula respondeu que “os países do Brics são soberanos” e que o Brasil continuará defendendo sua autonomia e integridade nas relações exteriores.
Até o momento, não houve uma reação formal por parte do Itamaraty em relação à nova tarifa. A equipe econômica do governo estuda possíveis medidas para mitigar os impactos sobre a indústria exportadora brasileira e avaliar eventuais contramedidas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A escalada tarifária de Trump, embora ainda sem força de decreto oficial, já movimenta os bastidores diplomáticos e deve gerar reações nos próximos dias, especialmente entre os países do Brics.
Veja a carta na íntegra:
9 de julho de 2025
Sua Excelência
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília
Prezado Sr. Presidente:
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
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