O uso do metanol em bebidas alcoólicas, especialmente nos destilados, tem sido motivo de preocupação nas últimas semanas. Em especial, após o aumento de internações e mortes provocadas por ingestão de bebidas contaminadas, com destaque para os casos registrados no estado de São Paulo.
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Para esclarecer os riscos, o programa RBV Entrevista, da RBV Rádios em Videira, recebeu nesta sexta-feira o professor Rodrigo Geremias, docente do curso de Engenharia Química do campus da UNOESC Videira.
Durante a conversa, ele explicou como o metanol pode surgir em bebidas alcoólicas e os perigos de seu consumo.
Segundo Geremias, o metanol pode aparecer naturalmente em pequenas quantidades no processo de fermentação, como no vinho tinto, por conta da pectina presente nas cascas das frutas. Entretanto, em destilados, o risco aumenta.
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“No processo de destilação, as primeiras frações — chamadas de ‘cabeça’ — devem ser descartadas, pois concentram o metanol”, explicou.
O problema atual, conforme ele aponta, não está ligado a falhas no processo artesanal ou industrial de destilação, mas sim à falsificação deliberada de bebidas alcoólicas com a adição de metanol para baratear custos.
“A suspeita é de que grupos criminosos estejam utilizando metanol para aumentar o volume das bebidas adulteradas”, afirmou o professor.
Metanol é incolor, não tem sabor ou cheiro perceptível
Além do baixo custo, o metanol é incolor, não tem sabor ou cheiro perceptível, o que dificulta sua identificação sensorial.
“Quem consome não percebe nada diferente. Os sintomas aparecem de 12 a 24 horas após a ingestão”, alertou Geremias.
Entre os efeitos estão náuseas, dor de cabeça intensa, visão turva, cegueira e até a morte, dependendo da concentração.
Cuidado na hora da compra
Outro ponto crítico destacado foi a comercialização de garrafas aparentemente lacradas e vendidas como originais.
Segundo Geremias, isso aumenta o perigo e exige atenção redobrada de comerciantes e consumidores. “A responsabilidade também é dos estabelecimentos. Comprar bebidas de fornecedores duvidosos, sem procedência clara, é um risco para todos”, enfatizou.
A preocupação se estende ao fato de que, quando a bebida é falsificada, não há rastreabilidade — diferentemente dos produtos industrializados registrados. Assim, identificar a origem do lote contaminado se torna quase impossível, ampliando os riscos para a população.
Destilados feitos de forma legal, com controle técnico e inspeção sanitária, não apresentam risco de contaminação por metanol.
“Aqui na região, por exemplo, os vinhos e destilados produzidos por vinícolas e alambiques legalizados passam por análises constantes”, garantiu.
Para evitar problemas, o professor recomenda sempre comprar bebidas de fontes confiáveis, conferir o lacre, o rótulo e desconfiar de preços muito abaixo do mercado.
“É melhor pagar um pouco mais caro por algo seguro do que correr riscos sérios à saúde”, finalizou.
Consumo de bebidas requer moderação
Rodrigo também lembrou que o consumo de bebidas alcoólicas, mesmo que legítimas, requer moderação.
“O etanol também é um álcool, e embora menos tóxico, pode causar danos à saúde quando consumido em excesso”, destacou.