Em 10 de setembro de 1975 era lançado o primeiro disco ao vivo do Kiss, álbum com 48 anos que marcou época e até hoje é aclamado como um dos maiores da história do Rock and Roll mundial. Embora na octogésima colocação entre os 500 melhores álbuns de todos os tempos, eleito pela revista especializada Rolling Stone, Alive! foi gravado para tentar salvar a banda e a sua gravadora de uma possível falência.
Era 1975 e Gene Simmons (baixista e vocalista), Paul Stanley (guitarrista e vocalista), Ace Frehley (guitarrista) e Peter Cris (baterista), viam-se às voltas para tentar salvar o Kiss de uma possível extinção, algo impensável nos dias atuais devida tamanha notoriedade e gigantismo que a banda alcançou nesses mais de 50 anos de carreira. Porém, era isso mesmo que poderia acontecer, mesmo após o lançamento de Kiss, Hotter than Hell e Dressed to Kill a banda não gozava de muita notoriedade. O hino Rock and Roll all Nite, inclusive, ainda não havia feito muito sucesso. Para piorar a situação, a sua gravadora, Casa Blanca, havia acabado de separar-se da gigante Warner Music e também não contava com muita verba.
Tendo isso em vista, para salvarem-se, banda e gravadora, decidiram gravar um álbum ao vivo, já que o orçamento à época para tal esforço era de cerca de 15 mil dólares, valor bem menor que os gigantes orçamentos necessários para gravar um álbum de estúdio que poderiam multiplicar esse valor em até 30 vezes. Outro fato importante que levou à tal decisão foi de que a banda apresentava ótimas performances no palco.
As captações de som para Alive! foram realizadas em quatro cidades americanas (Cleveland, Detroit, Wildwood e Davenport) entre os meses de março e junho de 1975. Porém, como pode-se imaginar, a qualidade das captações e equipamentos da época não eram satisfatórias como as atuais. Isso fez com que o produtor Eddie Kramer tivesse a ideia de regravar partes do show em estúdio e fazer algumas correções às captações originais. Fato que foi negado pelo produtor, gravadora e banda até o início dos anos 2000.
Curiosamente, o próprio Kiss negou por décadas que tenha retocado ‘Alive!’ em estúdio. Em sua autobiografia de 2001, o vocalista e baixista Gene Simmons disse: “Sempre existiram rumores de que o ‘Alive!’ foi refeito em estúdio. Não é verdade. O que queríamos, e conseguimos, é prova da visceralidade e do poder da banda”.
Dois anos depois, ele foi desmentido por Paul Stanley que, antes, também dizia que o álbum não havia sido retrabalhado em estúdio. Em 2003, durante entrevista ao quadro ‘Ultimate Albums’, do canal televisivo VH1, o vocalista e guitarrista declarou: “Sentíamos que era necessário capturar a integridade da performance, não necessariamente a tendo nota por nota conforme havia acontecido no palco”.
Contudo, além da precariedade das captações, devemos levar em consideração outros fatores como os ruídos produzidos pelos saltos das botas usadas pelos quatro integrantes da banda (saltos e plataformas com até 15 centímetros de altura), piso dos palcos de madeira que apenas faziam aumentar o ruído, o som das palmas da plateia que com a precariedade das captações não ficaram boas e outros pequenos deslizes da banda, como esbarrar nos pedestais dos microfones durante a performance e/ou cantar perto ou longe demais dos microfones, ato comum para uma banda que estava ainda no “início” da sua carreira.
Mas então, o que realmente é ao vivo em Alive!? Muito do instrumental geral e as captações da bateria que não foram cortados ou editados. No restante, inclusive os aplausos da plateia e vozes foram adicionados em estúdio. Daí a grande polêmica sobre os “overdubs”, que são realmente os trabalhos refeitos em estúdio.
Beleza, então concordamos que o álbum praticamente não é 100% ao vivo, mas e daí? Como crucificar tamanho êxito tendo em vista tamanhas as dificuldades que a banda enfrentava financeiramente e também dos equipamentos que não ajudavam muito? Fato é que esse álbum mudou a visão do mundo sobre os discos gravados ao vivo, pois até então esse tipo de trabalho era feito quase que exclusivamente por artistas, musicistas e bandas em fim de carreira.
Após a certeira investida do Kiss, outros nomes consagrados como Thin Lizzy, Led Zeppelin e Cheap Trick também gravaram seus discos ao vivo para a posterioridade obtendo grande notoriedade.
Alive! surpreendeu e mudou a história da música consideravelmente e, se você ainda tem dúvidas sobre a incrível performance que o Kiss entregava no palco em 1975, basta procurar no Youtube por vídeos das apresentações na época.
Resenha do álbum Alive! (Kiss) por Gionei “Pollenta” Cambruzzi Fhynbeen, Jornalista, Locutor e Produtor da Rádio 92 FM de Caçador. Apresentador do Programa 92 In Rock que vai ao ar todos os sábados das 18h às 20h na emissora.