Um novo composto que mantém até 35% do fósforo no solo, um dos macronutrientes imprescindíveis para adubação, foi desenvolvido por pesquisadores de São Paulo e Santa Catarina a partir de nanotecnologia.
A fórmula é composta de 50% de ureia, que disponibiliza nitrogênio, e 50% de hidroxiapatita em pó, um mineral que é fonte natural de fósforo.
De acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que é uma das financiadoras do projeto, o nanomaterial chamado de UHap foi transformado em grãos minúsculos por meio de uma extrusora, máquina usada na indústria de fertilizantes, o que pode ajudar a escalar a iniciativa ao mercado brasileiro.
Para comparar a eficiência do material com outras fontes de fósforo, os pesquisadores verificaram a disponibilidade do nutriente em áreas com plantio de milho que receberam cada um de três tratamentos: o novo composto, apenas o pó de hidroxiapatita e um fertilizante fosfatado comercial, o MAP do pacote NPK.
“Quando aplicado no solo, o fósforo reage com os minerais presentes naquele ambiente e forma fases pouco solúveis, que não permitem que as raízes das plantas absorvam o nutriente. Alteramos a estrutura do fertilizante para que ele protegesse o fósforo contido e fosse mais bem aproveitado”, explicou, em nota, Amanda Giroto, doutoranda na Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP), que participa do estudo.
Tanto o fertilizante comercial quanto a hidroxiapatita apresentavam 89% de fósforo no primeiro dia do experimento. Após 21 dias, a disponibilidade do nutriente no solo baixou para 28%, até chegar a 18% depois de 42 dias.
O nanomaterial, por sua vez, começou o experimento com 53% de fósforo, tendo o teor reduzido para 42% e permanecendo em 35% ao fim dos 42 dias de testes.
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O próximo passo dos pesquisadores é buscar parcerias com empresas para fazer testes em larga escala em diferentes culturas para acompanhar o potencial de absorção do fósforo.
Hoje, cerca de 80% do que é aplicado desse nutriente na forma de produto acabado pode ser perdido em processos químicos de interação com o solo.
“Era preciso ter o fertilizante numa apresentação que o produtor rural e o agrônomo já conhecessem e soubessem como aplicar, além de poder mostrar as vantagens diante do produto normalmente utilizado, um dos mais vendidos no país”, observou Cauê Ribeiro, pesquisador da Embrapa Instrumentação, que coordenou o estudo.
Outra vantagem do novo composto é a absorção de nitrogênio, diminuindo o número de aplicações desse tipo fertilizante no campo.
Por enquanto, os resultados da pesquisa foram publicados em uma revista internacional e envolvem outros profissionais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).