Chegando ao fim de 2025, as mudanças climáticas se consolidaram como um dos principais temas debatidos no Meio-Oeste de Santa Catarina, especialmente pelos impactos diretos no agronegócio e, de forma ainda mais sensível, na fruticultura.
Esse foi o foco do último RBV Entrevista do ano, realizado diretamente de Fraiburgo, um dos principais polos produtores de maçã do estado. O programa ouviu Everlan Fagundes, parceiro do jornalismo da Rádio Videira, para analisar os efeitos do clima extremo, como o granizo, nas safras e na economia regional.
Segundo Fagundes, o ciclo produtivo começou de forma positiva, com frio adequado e boa formação das gemas, mas foi severamente comprometido por sucessivos episódios de granizo ao longo de 2025, especialmente o registrado no dia 4 de junho.
“A gente teve um início de ciclo muito bom, com frio e qualidade de gema, mas depois o clima não ajudou como no começo”
Em algumas propriedades, as perdas foram totais, enquanto áreas vizinhas não sofreram danos, evidenciando a irregularidade dos fenômenos climáticos na região. O granizo impactou diretamente a qualidade e o valor da fruta comercializada. “O fruto que pagaria R$ 4 o quilo acaba vindo para R$ 1”, destacou o pesquisador, ao relatar a frustração enfrentada pelos produtores. Além disso, mesmo áreas que não sofreram danos diretos podem ser afetadas pela queda geral de preços, já que o mercado passa a absorver frutas com menor padrão estético por valores reduzidos.
Diante desse cenário, a cobertura anti-granizo foi apontada como a principal estratégia de prevenção. “Por mais que exista seguro ou outras alternativas, a melhor forma de trabalhar com o granizo é a cobertura”, afirmou. Everlan reforçou que depender apenas de políticas públicas aumenta a insegurança no campo.
“O produtor acaba trabalhando com medo, e isso não é saudável nem para ele, nem para a região, que depende da fruticultura”
Em relação às safras, frutas de caroço como ameixa e pêssego tiveram atraso médio de cerca de 15 dias na colheita, mas apresentam bom desempenho produtivo. Já a maçã deve ter produção menor do que o inicialmente esperado em Santa Catarina, ficando entre 800 e 900 mil toneladas. “Provavelmente não vamos chegar a um milhão de toneladas, mas isso ajuda a melhorar o preço pago ao produtor”, avaliou Everlan. Em Fraiburgo, a expectativa é de uma safra média a ligeiramente acima da média dos últimos anos.
Sobre as chuvas de verão, Everlan explicou que o impacto tende a ser controlado, desde que o manejo seja adequado. “Sempre afeta, mas este ano a fruta teve boa quantidade de chuva até agora e a tendência é de uma colheita com ótima qualidade”, afirmou. Ele alertou, no entanto, para o risco de doenças em períodos chuvosos, especialmente se o produtor não conseguir realizar os tratamentos no momento correto.
Ao falar das lições deixadas por 2025, Everlan foi direto ao produtor rural. “Sempre proteja pelo menos uma parte da sua área. Às vezes é esse pedaço que paga as contas no fim do ano”, aconselhou. Para ele, investir em tecnologia e prevenção é fundamental diante de um clima cada vez mais imprevisível.

