Na manhã desta quarta-feira, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, foi preso em Florianópolis sob acusação de suposta interferência nas eleições presidenciais. A operação foi conduzida pela Polícia Federal (PF), que revelou que membros da PRF são suspeitos de orquestrar a alocação estratégica de recursos humanos e materiais visando dificultar o trânsito de eleitores no segundo turno do pleito em redutos eleitorais do presidente Lula (PT).
As investigações da PF apontam que os atos ilícitos em questão teriam sido meticulosamente planejados desde o início de outubro daquele ano. No dia do segundo turno, uma operação ostensiva de patrulhamento teria sido direcionada à região Nordeste do país, onde teriam ocorrido possíveis ações de bloqueio. Nomeado para o comando da PRF pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), Vasques vem sendo cotado para concorrer a vice-prefeito de São José – onde já foi secretário municipal.
A PF argumentou junto ao sistema judiciário pela prisão preventiva de Vasques, fundamentando que sua influência ainda presente sobre alguns servidores poderia prejudicar o andamento das investigações, inclusive a coleta de depoimentos. Os mandados de busca e apreensão cumpridos nesta data visam elucidar a eventual interferência até o momento.
A ação conduzida pela PF, intitulada “Operação Constituição Cidadã”, conta com o respaldo de dez mandados de busca e apreensão expedidos pelo Supremo Tribunal Federal. Esses mandados abrangem os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte. A Corregedoria Geral da PRF também se envolve na operação, incluindo a convocação para depoimento de 47 policiais rodoviários federais.
De acordo com comunicado da PF, as condutas investigadas podem configurar os crimes de prevaricação e violência política, tipificados no Código Penal Brasileiro. Ademais, os indícios também apontam para a possibilidade de crimes como impedir ou dificultar o exercício do sufrágio, bem como ocultar, sonegar ou restringir o fornecimento de serviços essenciais no dia da eleição, em conformidade com o Código Eleitoral Brasileiro.
O nome “Operação Constituição Cidadã” faz alusão à Constituição de 1988, que garantiu o direito ao voto a todos os cidadãos brasileiros, representando um marco na história da democracia do país. No contexto do segundo turno das eleições de 2022, a PRF realizou fiscalizações em 2 mil ônibus na região Nordeste e 571 no Sudeste. O foco dessas ações nas rodovias nordestinas suscitou a investigação da Polícia Federal sobre possíveis motivações políticas, destinadas a dificultar a mobilização de eleitores, especialmente os apoiadores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Diante das suspeitas, Vasques foi convocado a prestar esclarecimentos na CPI do 8 de Janeiro. Nessa ocasião, o ex-diretor classificou a acusação como a “maior injustiça da história” e justificou as operações intensivas no Nordeste pela suposta “maior infraestrutura” da corporação naquela região. Essa explicação, no entanto, foi refutada por membros do governo, que apresentaram dados indicando maior efetivo da PRF no Sudeste. Vasques concluiu a sessão alegando que as ações da PRF impediram a “compra de votos” e garantiram um “trabalho eficiente em todo o Brasil”.