A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump, atinge em cheio um produto exportado por Videira: o suco de laranja. Embora o produto não lidere em volume de exportações, ele tem nos EUA seu principal destino, o que o torna altamente vulnerável à medida, segundo análise do cientista político Caleb Bentes.
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“O suco de laranja não é o carro-chefe em volume de exportação, mas é concentrado quase exclusivamente no mercado americano. Isso torna o segmento particularmente exposto à nova tarifa”, explica Caleb Bentes. Em Videira, a produção é liderada pela Fischer, uma das maiores empresas do setor no país.
Mesmo com o risco, o município demonstra força no cenário externo. Na verdade, o principal parceiro comercial de Videira não são os Estados Unidos, mas o Japão, destino da maior parte da carne suína exportada. O município, inclusive, bateu recorde de exportações neste ano, puxado exatamente pelo desempenho no mercado japonês. Isso mostra que, apesar da preocupação com as tarifas americanas, especialmente no setor de bebidas, o eixo comercial de Videira está firmemente voltado à Ásia, o que oferece uma camada extra de segurança econômica frente à crise com os EUA.
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Diversificação ajuda a reduzir impacto
Segundo o analista, esse perfil diversificado é uma vantagem: “Videira tem musculatura exportadora e capacidade de adaptação. O impacto será real no suco, mas há como contornar com planejamento, resposta rápida e diplomacia corporativa”, afirmou.
Caleb lembra que o Brasil recém firmou um acordo de livre comércio com os países da EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), onde há demanda crescente por suco de laranja. Também há oportunidades no Oriente Médio e na Ásia, regiões que vêm estreitando laços comerciais com o Brasil diante do cenário global instável.
Treze Tílias pode sentir mais
Enquanto Videira deve enfrentar efeitos localizados, Treze Tílias, município vizinho, pode sofrer impacto mais direto. Isso porque sua indústria depende da importação de maquinário e outros bens dos Estados Unidos.
“As tarifas tendem a elevar os custos operacionais e dificultar a reposição de equipamentos. Não se trata de colapso, mas de um desafio logístico e tecnológico que exigirá respostas rápidas”, analisa Bentes.
Mais que comércio: o jogo geopolítico
Na visão do cientista político, as tarifas são uma ferramenta de pressão política, não apenas comercial. “Trump usa esse tipo de medida para gerar caos, criar medo e negociar de forma agressiva. Já fez isso com aliados como Japão e União Europeia”, lembra.
A resposta brasileira — que inclui reciprocidade tarifária, e a possibilidade de quebra de patentes de medicamentos e tarifas maiores a produtos culturais americanos — está sendo construída. Mas o prazo para negociação ainda existe: a tarifa só entra em vigor em 1º de agosto.
“Até lá, tudo pode mudar. Em política internacional, o cenário nunca é linear. Mas uma coisa é certa: as empresas brasileiras precisam incorporar variáveis políticas e geopolíticas ao planejamento estratégico. A lógica tradicional de mercado já não basta”, alerta Bentes.
Economia sólida e flexível
Com setores consolidados nas áreas de alimentos, bebidas, metalmecânica e plástico, Videira é consolidada como polo regional da agroindústria e tem estrutura para resistir a choques externos. “Essa diversidade econômica dá flexibilidade para readequar mercados e produtos. É um diferencial importante nesse novo contexto global”, afirma.
A disputa entre Brasil e EUA ainda pode escalar ou se resolver pela diplomacia. Enquanto isso, o alerta está dado: a política internacional entrou de vez no custo das empresas, mesmo longe dos grandes centros.