Você há de concordar comigo que The Wall é disparadamente o melhor álbum lançado pelo Pink Floyd. Foi simplesmente o disco mais vendido na década de 1980. Para tanto, a banda apostou em uma ópera rock para criar essa obra que até os dias atuais serve como uma crítica social e ao mesmo tempo é agradável de ser ouvida.
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Entretanto, esse é disco que, para muitos, inicia o fim das relações entre o seu grande idealizador, Roger Waters, e o guitarrista e vocalista, David Gilmour – mesmo o segundo tendo afirmado que até ali as diferenças entre os dois eram apenas na base criativa que a banda estava tomando. Segundo Gilmour, “a intenção era fazer o melhor álbum de todos os tempos”. Não podemos negar que The Wall tornou-se antológico e está entre os melhores discos de todos os tempos.
A ideia do disco surgiu de uma briga ocorrida entre Waters e um fã, durante um show onde a massa exigia que a banda continuasse tocando e, mesmo a banda atendendo os pedidos, esse fã se mostrava exaltado. Waters perdeu a cabeça e cuspiu no fã, fazendo-o refletir como naquele momento estava parecendo um ditador e também como a banda estava formando uma legião de fãs fanáticos, extremistas e cegos pelo seu trabalho.
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Waters então fez a ligação entre o fato ocorrido durante o show e sua vida particular, percebendo como estava criando um muro em torno de si. Nesse momento nasce o personagem “Pink” que se torna o personagem principal durante todo o álbum, um personagem alienado e, por consequência, sem pensamento crítico.
O disco foi tão importante para a história da música contemporânea que em 1982 ganhou um longa-metragem (filme) produzido em cima das suas 26 canções, elevando ainda mais o status de Another Brick in The Wall Part. II como a música mais famosa e que mais deu retorno financeiramente para a banda.
Pouco após o fim da turnê de The Wall a banda iniciou a produção de um novo disco. Porém, foi aí em que as grandes diferenças entre Waters e Gilmour apareceram e Waters decidiu sair da banda. Waters imaginava que esse seria o fim do Pink Floyd, que não foi. Então processou sua ex-banda e acabou “ganhando” os direitos autorais de The Wall. Mesmo com os direitos do disco, Waters levou bons anos até retomar suas canções em seus shows solo, até que enfim produziu uma turnê tocando apenas músicas desse disco.
A turnê de Waters foi gigantesca, contando com uma superprodução onde dezenas de atores representavam os personagens do disco. Um muro era literalmente construído no palco durante os shows e Waters assumia o personagem de ditador.
O conceito do disco
Pink é um rockstar frustrado, assolado com a morte do pai durante a Segunda Guerra Mundial (aqui o paralelo com Waters é verídico), isso fica evidente na faixa de abertura do disco, In the Flesh?. Pink foi criado por uma mãe superproterora, as canções que demonstram essa situação são The Thin Ice e Mother. No disco, entre essas duas canções está Another Brick in The Wall Part. I, que é onde o Pink passa a construir o muro em torno de si.
Em Happiest Days of Our Lives e Another Brick in the Wall Part. II a vida escolar de Pink é descrita e novos tijolos são acrescidos ao muro. Young Lust retrata como o personagem continua tendo problemas de relacionamento. Nessa canção ele é adulto, está casado e mantém seus vícios de rockstar. Dessa forma é traído pela esposa e mais tijolos vão surgindo.
A última faixa do primeiro disco é Goodbye Cruel World, aqui Pink isola-se totalmente do mundo real e o último tijolo do seu muro é colocado.
Na abertura do segundo disco o personagem passa a questionar a “construção do seu muro”. Em profunda depressão Pink passa a se voltar cada vez mais para dentro de si mesmo, isso o leva a ter devaneios que são interrompidos quando seu empresário invade o quarto com médicos que lhe aplicam drogas para que ele consiga fazer o próximo show. É sobre isso que trata Comfortably Numb em uma analogia aos distúrbios psiquiátricos do fundador e ex-membro do Pink Floyd, Syd Barret, e também na experiência do próprio Waters com sedativos.
Sedado e tendo alucinações Pink se vê em meio ao seu próximo show incorporando um ditador fascista que julga seus fãs, transformando-se naquilo que matou seu pai durante a guerra. Tudo isso está presente nas músicas Run Like Hell e Waiting for the Worms. Em Stop Pink pede para que tudo isso pare.
Refletindo e julgando a si mesmo Pink decide que é chegado o momento do basta e decide de uma vez por todas que o muro precisa ser derrubado: é sobre isso que se trata a música The Trial. Daqui em diante o protagonista reassume o controle da sua vida e percebe que o isolamento não é o melhor lugar para se estar, então em Outside the Wall, Pink se reintegra à sociedade. Essa é a última canção desse álbum conceitual que basicamente retrata a vida, experiências e sentimentos de Roger Waters. De tão pessoal, muitos fãs chegam a tratar The Wall como um álbum solo de Waters.
The Wall foi lançado em novembro de 1979 e fez um enorme sucesso, chegando ao número de 18 milhões de discos vendidos. É o marco da última vez em que a formação clássica da banda se reuniu para trabalhar em estúdio. No disco seguinte (The Final Cut), Richard Wright (tecladista) já não faz mais parte da banda e, em 1985, o próprio Waters deixa o Pink Floyd para nunca mais voltar. O quarteto voltou a tocar junto em um show em 2005, três anos antes da morte de Wright.
Por Gionei “Pollenta” Cambruzzi Fhynbeen, Jornalista, Locutor e Produtor da Rádio 92 FM de Caçador. Apresentador do Programa 92 In Rock que vai ao ar todos os sábados das 18h às 20h na emissora.
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