A ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol representa um risco gravíssimo à saúde e pode levar à perda total da visão. Um dos sinais mais alarmantes é a visão borrada, acompanhada de manchas escuras, sensibilidade à luz e uma névoa que se intensifica até apagar totalmente a capacidade de enxergar.
PARTICIPE DO NOSSO GRUPO NO WHATSAPP E RECEBA NOTÍCIAS
Essa substância química, altamente tóxica, afeta diretamente o nervo óptico — estrutura essencial para transmitir imagens da retina ao cérebro. O impacto pode ser devastador e irreversível.
Desde o início de setembro, autoridades paulistas investigam possíveis mortes e casos graves de contaminação por metanol na região metropolitana de São Paulo. Em pelo menos um desses relatos, a vítima perdeu completamente a visão após ingerir bebida adulterada.
“O nervo óptico funciona como um cabo que conecta a retina ao cérebro, onde as imagens são processadas. Se for danificado, a transmissão falha e a visão pode ser perdida”, explica o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo do Einstein.
Veja também
PROCON/SC intensifica fiscalização de bebidas alcoólicas falsificadas em Santa Catarina
Governo Federal lança consulta pública para emissão da CNH sem necessidade de autoescola
“Ele é tão delicado que encostar a ponta de uma antena, por exemplo, já pode causar lesão irreversível.”
Pesquisas apontam que a ingestão de apenas 10 ml de metanol diluído pode provocar lesões graves e permanentes no nervo óptico. Já o consumo de 30 ml pode ser fatal.
O perigo está na forma como o corpo processa o metanol. No fígado, ele se transforma em formaldeído e, em seguida, em ácido fórmico — um composto extremamente tóxico. O ácido fórmico ataca diretamente as mitocôndrias, prejudicando a produção de energia celular, especialmente nas células nervosas.
Sem energia suficiente, essas células não funcionam e podem morrer rapidamente, causando inchaço no nervo óptico e colapso visual. “Como o nervo óptico depende dessa energia para funcionar, a ausência dela causa um sofrimento importante e leva essas células à morte. E células nervosas que morrem não se regeneram, daí a gravidade do caso”, reforça Lottenberg.
Quais os sintomas da intoxicação por metanol?
Os primeiros sinais podem demorar até 24 horas para surgir. Inicialmente, os sintomas se confundem com uma ressaca comum: tontura, enjoo, dor de cabeça e fraqueza.
Com a progressão do quadro, surgem alterações visuais como embaçamento, escotomas (manchas escuras), fotofobia e até visão dupla. “O pior dos mundos é quando ocorre a perda progressiva da visão, como uma névoa que vai encobrindo tudo aos poucos”, relata o especialista.
Para diagnosticar o grau de dano no nervo óptico, médicos usam exames como acuidade visual, avaliação do campo de visão, teste de reflexo pupilar e percepção de cores.
Além da cegueira, o ácido fórmico pode afetar o sistema nervoso central e causar acidose metabólica grave — uma condição que pode evoluir para coma ou morte.
Atendimento médico rápido pode salvar vidas
O tratamento exige atendimento imediato. A administração de etanol como antídoto é uma das medidas, pois ele compete com o metanol pelo metabolismo hepático. Em casos graves, pode ser necessária hemodiálise para eliminar a substância do corpo.
“O tempo é absolutamente fundamental. Se a intervenção for rápida, é possível reverter parte dos danos. Mas o tempo de ação é muito individual e depende da quantidade de álcool ingerida”, alerta Lottenberg.
O que fazer em caso de suspeita
Se você ingeriu bebida alcoólica e apresentar qualquer sintoma suspeito, procure imediatamente atendimento médico de urgência. Também oriente outras pessoas que consumiram a mesma bebida a fazerem o mesmo.
Os canais para orientação incluem:
- Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001
- Centro de Intoxicações de São Paulo (CCI): 0800 771 3733 ou (11) 5012-5311
- CIATox da sua cidade, se disponível