A produção de leite vive uma das piores fases dos últimos anos no campo. Enquanto os custos de manutenção dos rebanhos aumentam, o valor pago ao produtor rural segue em queda constante. O resultado é um cenário de desânimo e incerteza entre as famílias que dependem da atividade para sobreviver.
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Para entender os impactos diretos dessa crise do leite, o RBV Agro conversou com o médico veterinário Célio Lucas Ramos, de Ibiam, que acompanha de perto a realidade dos produtores locais. Ele explica que os principais fatores que encarecem a produção são justamente os insumos externos e a falta de remuneração adequada.
“A questão hoje é a mão de obra, que está cada vez mais cara. Se o produtor precisa contratar alguém, ou comprar combustível, ração, medicamentos, tudo isso onera a atividade. E se não há uma remuneração suficiente, vai se tornando cada vez mais difícil continuar”, afirma Célio.
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Outro ponto que tem pesado é o aumento dos juros. Muitos produtores recorrem a financiamentos para manter a produção, mas enfrentam taxas altas que dificultam ainda mais o equilíbrio financeiro. “Os investimentos são cada vez maiores: máquinas, animais, manutenção. E os juros altos acabam atingindo diretamente as propriedades, que já não têm uma remuneração satisfatória”, complementa.
Com o preço do litro de leite em queda, os reflexos nas propriedades são imediatos. “O produtor acaba reduzindo a ração e os alimentos dos animais, o que afeta a sanidade do rebanho. É uma reação em cadeia. Se o dinheiro não entra na propriedade, tudo se complica”, relata o veterinário.
Célio também confirma que muitos produtores têm desistido da atividade ou reduzido o número de animais, um movimento que preocupa o setor. “Alguns falam que vão parar nos próximos anos. Outros diminuem o rebanho e deixam de investir. É triste, porque muitos têm tradição na atividade e dependem dela para viver”.
Apesar das dificuldades, ele destaca o apoio que vem sendo dado pelo poder público municipal em Ibiam, com ações voltadas para reduzir os custos na propriedade.
“Temos subsídios na produção de silagem, uso de maquinário cedido e assistência técnica. Mas mesmo com essas iniciativas, se não houver uma remuneração justa, a atividade vai continuar sofrendo. É preciso que o governo estadual, federal e os laticínios olhem mais para o produtor”, defende.
Família atua no ramo há 40 anos
Entre os que resistem a crise do leite está o produtor Rodrigo Peretti. A família dele se dedica há 40 anos à produção de leite em Ibiam. Ele conta que a margem de lucro hoje é mínima e que, nos últimos meses, os custos aumentaram drasticamente.
“Tivemos um aumento de até 30% no preço do nitrogênio, usado na lavoura e nas pastagens. E o leite teve seis quedas seguidas no preço, somando uma baixa de quase 20%. Fica muito difícil manter o equilíbrio”, relata.
Mesmo diante das perdas, Rodrigo afirma que não pensa em abandonar a atividade, mas admite que será necessário fazer ajustes. “Vamos tentar reduzir um pouco o número de animais, fazer alguns descartes, para conseguir caixa e continuar produzindo. A gente gosta do que faz, então vamos tentar passar por mais essa crise”.
Para ele, o setor precisa de mais incentivo ao consumo e restrição à importação de leite, que tem prejudicado o produtor nacional. “Precisava ter campanhas para incentivar o consumo de leite, principalmente nas escolas. E o governo também precisa rever as importações, porque isso desestimula quem produz aqui dentro”.
Cenário nacional
A situação da cadeia leiteira é crítica em todo o país e reflete diretamente na vida no campo. Para muitas famílias, o leite é a principal — e às vezes única — fonte de renda mensal. Com custos elevados e preço baixo, a atividade perde força e atratividade, especialmente entre os jovens.
“O produtor de leite trabalha todos os dias do ano, sem feriado, sem descanso. Ele precisa ser valorizado. Se o produtor não tiver condições de continuar, quem vai colocar o leite na mesa do consumidor?”, argumenta o veterinário Célio Ramos.
Em meio a uma das maiores crises do setor, os produtores seguem resistindo — com esperança de que o leite volte a ter o valor que realmente merece.







